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Éverlan Stutz; articulista Estadoatual

segunda-feira, 18 de abril de 2022 às 08:00 - por, redacao.

Artigo


O amor é um riso espontâneo.


O amor é um riso espontâneo

Há um anagrama de civilização. E esse anagrama é o amor que nasce espontâneo, fluído. O amor e a espontaneidade são essencialmente potentes. Quanta potência há em amar. Germinamos desse ato que brada em existir e resistir em tempos sombrios. Perdemos a privacidade e a espontaneidade com tantos entretenimentos digitais, filtros, aplicativos de encontros com cardápios de carne crua e nua. O ângulo é bem calculado, cada publicação é pensada. Nossa carência anda muito exposta nas últimas décadas e a falta de espontaneidade persiste nas redes sociais.

Admiro pessoas espontâneas que cultivam a simplicidade em pequenas ações. Pensamos grande e, muitas vezes, nos esquecemos das miudezas da existência, do cotidiano ordinário que revela nossa essência em atitudes corriqueiras, como ficar em casa de pijama deitado no sofá da sala, arrumando papéis ou simplesmente sem fazer nada, só contemplando o passar do tempo sem ambições megalomaníacas. O cotidiano é espontâneo, avassalador, assim como o amor.

Não me refiro ao amor romântico protagonizado em cenas apoteóticas nas telonas de cinema. O amor é riso sem freios, sem filtros. Não há razão para amar, o amor nasce do inusitado. E quando esse sentimento acontece devemos manter a chama viva da espontaneidade, de mostramos quem realmente somos, sem idealização ou qualquer tipo de maniqueísmo. Encarar o amor com a simplicidade do cotidiano é saber lidar com as frustrações do que é idealizado. Amar não é idealizar o outro. É saber que, apesar de todos os defeitos inerentes à condição humana, podemos aceitar o outro em sua totalidade.

Amar é um mistério naturalizado pela potência de existir. E o amor é potente quando é espontâneo, quando rimos de nossos próprios medos e erros. É necessário amar porque este é o melhor verbo a ser conjugado cotidianamente. Para ampliar essas reflexões de pirilampos, disponibilizo o poema ‘Rio’, escrito a duas mãos na espontaneidade de uma amizade que, para Mario Quintana, é um amor que nunca morre.

Éverlan Stutz é jornalista, professor e poeta    

Rio

Não se cala um riso

A risada é sagrada

Quem rir cria rios de gargalhada

Não se cala um riso

Deixem os sisos à mostra

Deixem à mostra

O ser animalesco que nos habita  

As rugas

As fugas

O espontâneo, o efêmero

Não se cala um riso

Rir por enquanto

Porque não se sabe até quando  

Rir é ir ao desencanto do instante!

Éverlan Stutz e Renata Satller