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Verdades e Mentiras

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018 às 08:31 - por, redacao.

Insegurança Pública


Para que servem as estatísticas na segurança pública?


Por: Jornalista Carlos Pacelli

Recentemente uma aresta entre órgãos de segurança e imprensa regional do Alto Paraopeba tem sofrido o reflexo de uma relação abalada, onde o respeito pela informação têm se transformado numa via de mão única (Saiba Mais). Diante de muitos questionamentos estatísticos e gráficos numéricos elaborados, autoridades vêm tentando convencer o jornalismo regional, apresentado uma estatística positiva, nesta guerra entre a segurança pública e o crime organizado. Vivemos sim, um reflexo no aumento constante desta criminalidade regional e nada nem ninguém, pode convencer as notícias narradas pelos jornalistas regionais, pois o nosso “lead” é um fato puramente verdadeiro. Agora não de forma oficial, mas sim com informações da população, divulgamos notícias informadas por vítimas, cansadas de serem enganadas com falsas palavras de tranquilidade.

O crescimento da violência, recentemente foi anunciado por um jornal regional como um “Novo Cangaço”. O título foi amplamente questionado por autoridades locais, mas o retrato da notícia foi uma real amostra dos fatos.  O crime organizado cresce sim, em cidades regionais como Conselheiro Lafaiete, Congonhas e Ouro Branco. Ainda reafirmo, que há mais de 30 anos, trabalhando como jornalista na editoria de polícia, observo tal verdade e percebo que a violência cresceu de forma alarmante sim! Na sua cidade, na sua rua, no seu bairro. Somente não vê, quem não quer enxergar, preocupações com estatística, é o reconhecimento que algo não anda bem na segurança pública.

Para que servem as estatísticas na segurança pública?

Por: Ana Paula Miranda / Antropóloga

A estatística entendida como ciência do Estado se constitui em um exemplo privilegiado da relação entre saberes e poderes, que vai desde a escolha dos temas a serem investigados até os conceitos, bem como outros aspectos metodológicos da produção de estatísticas públicas, tudo é produto de escolhas feitas pelos “analistas”. Assim, as estatísticas não podem ser compreendidas como uma cópia da realidade, mas sim como sínteses construídas a partir da observação das realidades. Conseqüentemente, todo recorte estatístico é constituído por diferentes interpretações de um mesmo fato, o que explica a existência de um grau aceitável e conhecido de erro, muito embora haja um discurso de que os números sejam sempre exatos.

A inexatidão da informação estatística tem sido comumente interpretada como uma forma de manipulação intencional, com o objetivo de obter os resultados que interessam aos governos. Esta prática é tradicionalmente chamada de “maquiagem”, como referência ao hábito de utilização de produtos de beleza para disfarçar imperfeições e realçar pontos positivos, bem como para produzir máscaras e fantasias. Não há como negar que a metáfora se aplica bem a diversas formas de governos, nacionais ou internacionais, mais ou menos democráticos, que ao longo da história procuraram dissimular alguns fatos e exibir outros tantos.

Porém, há que se problematizar mais a inexatidão estatística sob o risco de perdermos um instrumento de análise necessário para a construção de políticas públicas. Primeiro, é preciso se pensar para que servem os dados na segurança pública? Servem para, principalmente, orientar a administração quanto aos caminhos que deve seguir no planejamento, execução e redirecionamento das ações do sistema policial. Servem, também, para a população conhecer o que está acontecendo ao seu redor; e, depois, para que, conhecendo os dados e áreas de incidência, a população e os diferentes setores da sociedade civil possam objetivar as demandas por providências do Poder Público e contribuir para o esforço comunitário contra a insegurança.

O uso da informação estatística possui um caráter estratégico porque permite dar significado a infinidade de dados que inundam a administração pública. A sua importância não está apenas na divulgação da informação, mas na transformação da informação bruta em algo que possa servir para orientar ações futuras. Portanto, é o contexto que vai determinar o sentido dos dados.

O processo de quantificação para que seja útil à interpretação da realidade deve ser complementado pelas informações qualitativas, que fornecem mais detalhes sobre o fenômeno que se pretende estudar.

A propósito da insegurança, cumpre sublinhar que os dados estatísticos das polícias dão conta apenas do que se pode chamar de (in)segurança objetiva, o que tem a ver pura e simplesmente com a quantidade das ocorrências criminais. Não dão conta da (in)segurança subjetiva, também conhecida como sentimento de insegurança, que, independentemente dos dados objetivos, pode ser ampliada por inúmeros fatores, mas principalmente pelo impacto emocional destas ou daquelas ocorrências em função de quem seja a vítima ou o local onde tenham ocorrido.