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Filme de C. Lafaiete ganha prêmio especial

segunda-feira, 03 de maio de 2021 às 15:28 - por, redacao.

5ª edição do CineBaru


“Trindade”, do diretor Rodrigo Meireles, ganhou o Prêmio Aquisição SescTV. CineBaru premiou outros quatro curtas-metragens.


O filme “Trindade”, do diretor Rodrigo Meireles de Conselheiro Lafaiete/MG, foi um dos ganhadores da 5ª edição do CineBaru – Mostra Sagarana de Cinema. O anúncio foi feito na sessão de encerramento da Mostra, neste último domingo (2/5).

Foto arquivo: Em segundo plano o diretor Rodrigo Meireles

“Trindade” ganhou o Prêmio Aquisição SescTV, fruto de uma parceria que a Mostra mantém com o SescTV há quatro anos. O prêmio consiste no licenciamento da obra para o canal SescTV, o canal cultural do Sesc, por um período de 24 meses e com o valor de R$ 4 mil reais.

A Mostra também premiou outros curtas-metragens. O prêmio de melhor filme pelo Júri Técnico foi dado a duas obras pela primeira vez em cinco anos. Um deles é “Sonhos no chão, sementes da educação”, do diretor Lucas Bois (MG), que conta a história da reintegração de posse no acampamento quilombo Campo Grande, em Campo do Meio (MG), destruindo uma escola e os sonhos de centenas de pessoas. O outro foi “Reduto”, do diretor Michel Santos (BA), que traz o olhar do diretor sobre seu encontro com o cinema e a possibilidade de ressignificar seu olhar sobre sua cidade natal, Luís Eduardo Magalhães, a capital nacional do agronegócio.

O CineBaru distribuiu ainda menções honrosas para os filmes “Ângela”, da diretora Marília Nogueira (BA), e “Meia lata d’água ou lagarto camuflado”, do diretor Plínio Gomes (BA).

Neste ano, a Mostra contou com a inscrição de 135 produções audiovisuais. Foram selecionados 36 curtas-metragens, sendo 27 filmes para a Mostra Competitiva Regional e 9 filmes para a Mostra Sertãozin (infantojuvenil). A curadoria e o júri, ambos compostos por integrantes da equipe e convidadas externas, teve um olhar especial para filmes dirigidos e/ou protagonizados por mulheres, negras, negros, indígenas e LGBTQIA+.

Financiamento – Para custear a produção do CineBaru e fortalecer as ações em prol da democratização do cinema no território baiangoneiro, a mostra segue com a campanha de financiamento coletivo (acesse aqui). O CineBaru – Mostra Sagarana de Cinema também tem o apoio financeiro da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais e do Governo Federal, via Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc – LAB.

Trindade

Um retrato de Brasil?

Por Vitor Velloso – Crítico de cinema

Existe o registro e o “acaso”. Alguns dizem que no cinema não existe o acaso: Se está no corte final, é porque deixaram, não é mais acaso. Pode até ser, mas o aviso no início do filme diz muito. “Trindade” de Rodrigo Meireles é um retrato do Brasil do subdesenvolvimento, dos ecos da escravidão, do racismo, da precariedade, da miséria, da cantoria, do sorriso, da comida caseira, da fé e de relações dúbias. Trindade canta, mas não tá só. O “acaso” estourou o microfone. 

A vida tem alguns “acasos” e a protagonista conheceu todos que não deveria. Agora conta sua história, nos dá o tom das faces de um país que possui alguns muitos… “acasos” e “casos isolados”. 

O projeto enquadra o rosto de Trindade muito próximo à objetiva, tentamos observar seus olhos, muitas vezes escondidos e esse incômodo evoca sentimentos confusos no espectador. Desde o primeiro momento, ela possui uma força monstruosa, o impacto de cada frase, de cada novo trecho de sua vida. Uma sabedoria que só as piores versões do Brasil podem render, com a cabeça certa. A falta de julgamento na fala de Trindade é uma das virtudes que o filme aproveita, ocupando o rosto da protagonista na tela grande (que falta faz um cinema). A montagem encontra espaços para inserir breves imagens de apoio, mas o nome do filme não é por acaso. Ela é o filme. 

Com sorte, o espectador pode ouvir “Trindade” falar, cantar e contar. Mas não só ela. O “acaso” reservou um pequeno momento, um breve encontro, onde a história ecoa junto com a oralidade, tradição e ancestralidade no rosto de uma mulher negra brasileira que viu um Brasil bem de perto. E o trópico novamente mostrou que ele é quente, mas com um pouco de Oxum… 

Contudo… alguns “acasos” podem ser incômodos. A prioridade em falar do sofrimento e de uma superação sem relacionar a clara base na fé, canção, de Jurema à Oxum, se torna incômoda. Soa uma exposição pouco ocasional, um bocado fetichista (o que se traduz na linguagem) que não consegue relacionar os elementos que Trindade apresenta. Alguns acasos mereciam um debate.

Saiba mais e relembre matéria anterior

Fotos: Arquivo/Divulgação