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O fujão da facada e das fake News

segunda-feira, 23 de janeiro de 2023 às 08:50 - por, redacao.

Artigo


Por Professor Doutor - José Lins - Doutor em Linguística pela Universidade Federal da Paraíba, pesquisador e psicanalista (Foto).


É, no mínimo, estranho que, após cinco anos, a última internação do ex-presidente Jair Bolsonaro ainda faça referência a uma facada sem sangue. Entretanto, o estranhamento deve desaparecer quando esse fato ocorre em processo de quebra de sigilo de 100 anos de seus atos enquanto presidente. O que seriam, então, cinco anos frente a um século? A história pode ser contada de várias formas, mas nunca refutada. As fake news estão aí pra comprovar isso. Mentira tem pernas curtas, quase amputadas pelo tempo.   

Relembremos: em 2018, em ato público de campanha à presidência, Bolsonaro sofreu um suposto atentado em Juiz de Fora, em Minas Gerais, na véspera da comemoração da Independência do Brasil e próximo à eleição presidencial. Fato que comoveu milhões de desavisados, apesar da intensa campanha pelo “ele não”. Uma faca. Um criminoso absolvido impropriamente. Nenhum sangue. A explicação médica foi de que não atingindo grandes veias, o sangue pode ser contido, mesmo o laudo afirmando que houve perfuração nos intestinos. A comoção pública frente a uma suposta tentativa de homicídio colaborou na eleição do candidato, que, em seu discurso de posse defendia a liberdade e um “Brasil de diversas cores e opiniões”. Que cores? Azul e rosa? Que opiniões? A de que bandido bom é bandido morto? A história ainda vai mostrar a cara dos verdadeiros bandidos dessa narrativa maniqueísta e rasa.

Desde 2019, o então eleito presidente apenas desrespeitou a Constituição, os direitos humanos e, mais importante, a saúde dos brasileiros em plena crise mundial. Enquanto a pandemia era tratada com seriedade pelos demais líderes políticos, Bolsonaro tripudiava dos sintomas da covid-19 e afirmava que se tratava de um vírus sem importância. O que não era explicitamente dicotomizado por uma racionalidade positivista se tornou abjeto, desnecessário, ou, segundo Romanos 6:21, “e que fruto tínheis então das coisas de que agora vos envergonhais? Porque o fim delas é a morte”. A violência foi o maior legado deste presidente. Agora, temos que enfrentar o ódio ignorante de fanáticos por um “mito” – ser que influencia a condição humana de seus seguidores. A história mostrou a criação de mitos políticos por grupos extremistas como Hitler e outros despóticos.  

Em 2023, um dos símbolos da democracia do nosso país e da liberdade que almejamos enquanto nação foi covardemente depredado. Destruir, agredir e roubar foi o que seguidores desse ser “mitológico” fizeram no Congresso Nacional e outras instituições republicanas.  Perplexidade não basta. Indignação não resolve. Reagir é necessário. E, enquanto isso, o presidente fujão, pensa antecipar seu retorno ao Brasil, negando ser assistido pelos médicos do país em que se instalou, solicitando acompanhamento do médico que o assiste desde a facada de 2018. É necessário relembrar enfaticamente que a nossa sociedade está suscetível a informações falsas para não voltar a repetir erros passados que causaram danos imensuráveis a maioria da população.  O mundo continua seu ciclo, para alguns, um looping de dissimulações, para outros, o tempo é de recomeçar. E recomeçar é preciso, sempre!